Por volta dos 10 anos de idade
passamos estar ciente da morte da mesma forma que um adulto, ter medo de morrer
é comum entre as pessoas, 9,8% das pessoas têm preocupações frequentes com a
possibilidade de morrer, 3,8% das pessoas são simplesmente assoladas pelo medo
de morrer, pacientes que sofrem de Hipocondria (Transtorno de ansiedade de
doença) ou Fobia de doença são mais propensos a ter medo intenso de morrer.
Interessante que pessoas de mais idade não apresentam mais medo de morrer do que
pessoas mais jovens, ainda que estejam mais próximas da morte. Surpreende
também que pessoas com maior religiosidade são tão preocupadas com a morte
quanto pessoas agnósticas ou ateias. Por outro lado, períodos de estresse ou
ameaça, como problemas de saúde e perda de alguém querido pode aumentar
drasticamente a preocupação normal de morrer.
Uma das formas de lidar com o medo
patológico da morte é observar é fazer um balanço das coisas. Em toda a
amizade, por exemplo, algum dia você terá que dizer adeus, seja porque o amigo
mudou-se para longe ou porque ele morreu. Um dia a relação vai terminar.
Algumas pessoas tentam lidar com a ansiedade e a tristeza da perda decidindo
nunca fazer uma amizade. Afinal, se você nunca tiver um amigo, você nunca
perderá um amigo. Essa estratégia protege a pessoa da dor de uma perda, mas a
um enorme custo. A pessoa deixa de ter vários momentos de satisfação e alegria
decorrentes de uma boa amizade para prevenir alguns dias de tristeza.
Obviamente, a maioria das pessoas vai optar pelo lado positivo da experiência.
O mesmo acontece em relação à vida, a maioria das pessoas vai ter mais dias de
alegria e satisfação, do que dias de tristeza.
Todo ser vivo eventualmente vai
morrer. A cadeira que estamos sentados nunca vai morrer, mas também não vai
viver. A morte é parte normal do ciclo da vida. Não pode haver vida sem a
morte. Talvez, seja isso que torne a vida tão preciosa, ela é única, por isso,
é importante apreciamo-la, enquanto a temos.
Leonardo Alovisi Martins, médico
psiquiatra, CRM – RS 27614, especializado em psicoterapia
cognitivo-comportamental.
Passo Fundo – RS, 07-02-2017.
Os primeiros antidepressivos foram sintetizados no
final da década de 50 e no início da década de 60. Num primeiro momento, eles
eram prescritos apenas por médicos psiquiatras, pois a prescrição desses
fármacos envolvia cuidados com a dose, manejo de efeitos adversos e risco de
suicídio, quando ingeridos em excesso. Em 1986, com o lançamento do Prozac, um
antidepressivo com mecanismo de ação diferente dos anteriormente utilizados,
muito mais seguro, com poucas contraindicações e poucos efeitos adversos, houve
uma explosão na prescrição dos antidepressivos, inclusive por médicos de outras
especialidades. Diante desse contexto, cabe uma reflexão: são os
antidepressivos eficazes e seguros para todos os tipos de depressão?
Na realidade não, tanto que o uso de antidepressivo em
monoterapia é contraindicado no tratamento da depressão bipolar pelas
diretrizes Americana, Canadense e Australiana1,2,3, porque eles podem
desencadear um quadro de mania caracterizado por euforia, irritabilidade,
alteração do pensamento, grandiosidade, distratibilidade e envolvimento em
atividades de risco. Mesmo assim, conforme estudo apresentado pelo Dr. Michael
Ostacher, professor da Universidade de Stanford, no congresso americano de
psiquiatria em 2015, 70% dos pacientes em depressão bipolar, no ano de 2008, foram tratados em monoterapia com antidepressivos.
Os antidepressivos não deveriam ser usados também em
pacientes deprimidos que apresentem ao menos 3 sintomas do quadro de mania,
chamado de episódio depressivo maior com características mistas – depressão
mista.4 Conforme declaração do Dr. Stephen M. Stahl, professor da
Universidade de São Diego, Califórnia, e Presidente do Neuroscience Education
Institute in Carlsbad, Califórnia, os antidepressivos não funcionam ou até
mesmo fazem os pacientes piorarem nos quadros de depressão mista (Medscape
Medical News, maio de 2017).5
Portanto, os antidepressivos ainda são uma das formas
mais efetivas de tratamento para a depressão e outros transtornos mentais como
os transtornos de ansiedade. No entanto, é importante que se faça uma avaliação
médica, com o psiquiatra, cuidadosa dos sintomas atuais, da história pregressa, e da presença de
transtorno bipolar na família para evitar a prescrição desses medicamentos para
situações em que eles não são efetivos, podendo até mesmo agravar o quadro.
Referências:
1. Hirschfeld RM, Bowden CL, Gitlin MJ, et al.
for the work group on bipolar disorder; American Psychiatric Association.
Practice guideline for the treatment of patients with bipolar disorder. Second
edition April 2002. http://dbsanca.org/docs/APA_Bipolar_Guidelines.1783155.pdf.
2. Yatham LN, Kennedy SH, Parikh SV, et al.
(2013b) Canadian Network for Mood and Anxiety Treatments (CANMAT) and
International Society for Bipolar Disorders (ISBD) collaborative update of
CANMAT guidelines for the management of patients with bipolar disorder: Update
2013. Bipolar Disorders 15: 1–44.
3. Royal Australian and New Zealand College of
Psychiatrists clinical practice guidelines for mood disorders. Australian & New Zealand Journal
of Psychiatry 2015, Vol. 49(12) 1087–1206 DOI: 10.1177/0004867415617657.
4. Guidelines for the recognition and management
of mixed depression (2017), disponível para download em: https://www.cambridge.org/core/journals/cns-spectrums/article/guidelines-for-the-recognition-and-management-of-mixed-depression/0DFE7AD7358126E7859C0950CB0C3323?j=5945630&sfmc_sub=1101175402&l=673045_HTML&u=154681655&mid=1423905&jb=0&utm_source=SFMC&utm_medium=email&utm_content=Guidelines+for+the+recognition+and+management+of+mixed+depression&utm_campaign=JWM+CNS+22.2+press+release&WT.mc_id=JWM+CNS+22.2+press+release
5. Megan B. First-Ever Guideline for Mixed
Depression Released - Medscape - May 16, 2017. Disponível em: http://www.medscape.com/viewarticle/880056?src=wnl_edit_tpal&uac=225750AV
Leonardo Alovisi Martins, Médico Psiquiatra, CRM
27.614 – RS.
Passo Fundo – RS, dia 22 de julho de 2017.
Muitos psicólogos e psiquiatras pregam a
importância da autoestima, mas em análise mais profunda o significado de
autoestima muitas vezes equivale a pouco mais do que basear nosso senso de
autoestima no sucesso de nossas conquistas ou relacionamentos. Albert Ellis,
autor de mais de setenta e cinco livros e presidente emérito do Instituto
Albert Ellis para a Terapia Racional Emotiva Comportamental, critica esta
definição tradicional de autoestima, chamando-a de "Autoaceitação
condicional” - isto é, nos sentimos bem sobre nós, somente quando cumprimos
determinadas ambições e desejos pessoais.
Para Ellis a autoestima saudável, a qual ele chama
"Autoaceitação incondicional", é aquela em que aprendemos a apreciar
nossa personalidade única, não importando o quanto de sucesso atingimos ou quão
bem sucedidos são nossos relacionamentos. Esta abordagem mais realista,
salienta Ellis, ajuda-nos a evitar a armadilha comum de ao não corresponder às
nossas expectativas (muitas vezes irrealistas), experimentarmos sentimentos de
autodepreciação, baixa autoestima e depressão.
Corroborando com a teoria de Ellis, pesquisas
recentes têm mostrado que a autovalorização pode não ser tão eficaz quanto se
imaginou durante muito tempo. A ótima revista Mente & Cérebro, abordou esse
tema, pontuando as armadilhas da autoestima, ao vigiar as próprias vontades,
buscando atende-las a maior parte do tempo e evitar as frustrações
constantemente, fortalece-se a intolerância em relação aos erros – tanto os
próprios quanto o dos outros. Já a predisposição para prestar a atenção às
necessidades alheias e procurar se manter disponível para ajudar no que for
necessário tende a fortalecer a autoestima, não no sentido de evitar rejeição,
mas com o objetivo desenvolver um sentimento de intimidade e pertencimento.
Experimentos recentes mostram que a atitude de compaixão está conectada à
postura mais compreensiva consigo mesmo e consequentemente aumento de
autoestima. A autoestima baseada na conquista tende a ser efêmera. Parece que na contramão do que costuma pregar
a cultura vigente, popularizada pela mídia e pela publicidade, o caminho mais
eficaz para desenvolver e preservar a autovalorização é, ironicamente, pensar
menos sobre si mesmo, desenvolver compaixão pelos outros e por si próprio, e
ter uma perspectiva menos egocêntrica.
Leonardo Alovisi Martins, Médico Psiquiatra, CRM
27614 – RS.
Passo Fundo – RS, dia 19-12-2016.
O psiquiatra é o médico especializado em psiquiatria, ramo da medicina que lida com a prevenção, o diagnóstico e o tratamento de transtornos mentais e emocionais. Apesar de que, com o desenvolvimento da neurologia comportamental, haja cada vez mais sobreposição entre as especialidades médicas de psiquiatria e neurologia, pode-se dizer que a psiquiatria se ocupa de transtornos nas emoções, no pensamento, na percepção e no comportamento, enquanto a neurologia lida com partes identificáveis do sistema nervoso.
Um
psiquiatra é um médico que teve treinamento avançado no diagnóstico e
tratamento dos transtornos mentais. Esse treinamento avançado costuma incluir o
estudo de psicoterapia, e, visto que os métodos de psicoterapia são, com
frequência, fundamentados em uma teoria ou em um sistema particular de
psicologia, pode-se dizer que a psiquiatria engloba áreas da psicologia.
Os transtornos mentais tem ganhado relevância nos últimos
anos devido ao aumento da prevalência e o grau de sofrimento e incapacidade
associado a eles. Em 2004, segundo dados da OMS, a
depressão figurava como a terceira doença mais onerosa para a sociedade e a
quarta mais diagnosticada no mundo. A previsão para 2030 é de que a depressão
seja a primeira causa específica de incapacidade. No brasil, 12
milhões de brasileiros apresentarão depressão neste ano, e 25 milhões de
brasileiros já apresentaram depressão ao longo da vida. Ainda assim, a doença é
subdiagnosticada ou tratada de forma equivocada. Mesmo perante a essa triste
realidade, é importante sabermos que o tratamento psiquiátrico desenvolveu-se
muito após 1958, quando foi sintetizado o primeiro antidepressivo, e também
quando foi comprovado um componente biológico na etiologia dos transtornos
mentais.
Os tratamentos psiquiátricos desenvolveram-se muito a partir
de 1958, quando foi comprovado o componente biológico dos transtornos mentais e
sintetizado o primeiro antidepressivo. A psiquiatria moderna faz parte do
modelo médico baseado em evidências em que as decisões terapêuticas são
baseadas em estudos modernos que revelam o impacto de diferentes tratamentos,
sejam eles psicoterápicos ou medicamentosos. Os tratamentos têm sido cada vez
mais eficazes, a ponto de a mortalidade por suicídio no transtorno bipolar, por
exemplo, que é de 29,2% nos pacientes sem tratamento, reduz para 6,4% entre os
pacientes que fazem acompanhamento psiquiátrico regular. Observando também que
cada vez mais os tratamentos envolvem um menor número de efeitos adversos,
permitindo aos pacientes terem uma qualidade de vida similar a das pessoas que
não sofrem de doenças psiquiátricas.
Necessitar de um médico psiquiatra de forma alguma qualifica
a paciente como “descontrolado”, “de pouca confiança”, “louco” e outros adjetivos
que se escuta muito, e sim estamos diante de alguém que naquele momento esta
apresentando uma doença como qualquer outra, e precisa sim de ajuda médica
especializada. Dessa forma, nós psiquiatras nos fazemos presentes para que
possas entender mais sobre si mesmo, minimizando suas dificuldades e melhorando
sua qualidade de vida. Não tenha vergonha, procure seu psiquiatra.
REFERÊNCIAS:
- Campbell R. Dicionário de Psiquiatria. 8° Edição – Porto Alegre
: Artmed, 2009.
- Caldieraro MAK, et al. Depressão. Em: Programa de
Atualização em Psiquiatria. Artmed/Panamericana Editora Ltda. PROPSIQ, Porto
Alegre, Ciclo 3, Volume 1, 2013.
Dr. Leonardo Alovisi Martins, Médico Psiquiatra - Cremers 27614
- com formação em Terapia Cognitivo-Comportamental.
Passo Fundo –
RS, dia 23-11-2016.
Há uma crença geral de que o stress nos faz mal, as pessoas o culpam por muita coisa desde uma simples dor de cabeça até uma doença no coração, vivemos reclamando do stress no trabalho, no trânsito, na vida familiar, etc... Ela faz parte do nosso cotidiano e tem 433 milhões de citações no google referente ao tema.
As definições de estresse em geral se dividem em dois grupos: aquelas enfatizando a natureza nociva ou aversiva do estímulo originado no ambiente (p. ex., eventos de vida negativos) e aquelas enfatizando as respostas fisiológicas do individuo ao estímulo.
O termo estresse surgiu para designar as forças envolvidas em uma situação de ameaça à homeostase (qualquer mudança física ou psicológica que rompe o equilíbrio do organismo). O organismo reage ativando um complexo repertório de respostas físicas e comportamentais que buscam o restabelecimento da homeostase (equilíbrio).
A resposta ao stress agudo é o equivalente biológico de mobilizar tropas para lidar com o que foi percebido como ameaça. É ativado o Sistema Nervoso Autônomo Simpático e o eixo Hipotalâmico-Hipofisário-Adrenal (HHA), que liberam adrenalina e cortisol no sangue. A adrenalina aumenta a frequência dos batimentos cardíacos e o volume de sangue por batimento cardíaco. Isso é vital para a preparação da reação de luta-ou-fuga, já que ajuda tornar mais veloz o fluxo de sangue e assim melhora a distribuição de oxigênio nos tecidos, além disso, o sangue é redirecionado de algumas partes do corpo onde ele não é essencial naquele momento (através do estreitamento dos vasos sanguíneos) para outras partes onde ele é mais essencial (através da expansão dos vasos sanguíneos), ainda, há uma broncodilatação permitindo a chegada de mais oxigênio aos pulmões. Isto tem uma importância óbvia para a defesa do organismo, já que os tecidos precisam de mais oxigênio para estar preparados para a ação. Existem ainda outros alterações fisiológicas como dilatação da pupila, tensão muscular, redução da produção de saliva, etc. O cortisol, por sua vez, tem a função de mobilizar a energia aumentando a glicose cerebral e reduzindo as funções não essências como digestão e ereção (ao menos, não no momento de perigo).Uma vez superada a ameaça, o sistema nervoso simpático e o eixo HHA são desativados e a pessoa relaxa.
Algumas pessoas, porém, continuam reagindo ao stress, o chamado stress crônico, que pode ser definido como uma experiência adversa que induz vigilância elevada, sobre a qual se tem pouco controle. Um dos seus efeitos é que o cérebro não consegue suavizar o eixo HHA, o que expõe o cérebro e o corpo a glicocorticoides (entre eles o cortisol) em excesso, há quatro situações possíveis em que o indivíduo pode ser exposto de forma excessiva às respostas do estresse: a primeira, e mais óbvia, é o contato frequente com fatores estressantes (cargo de trabalho excessivo, pressão exagerado por resultados, conflitos familiares, modo perfeccionista de ser, etc..). A segunda é a falta de adaptação a um estímulo repetido, enquanto a maioria das pessoas tem uma reação de alarme quando realiza tarefas estressantes (p. ex., falar em público), mas, após fazê-las várias vezes, tem a ansiedade diminuída gradualmente; em 10% das pessoas esse tipo de tarefa continua sendo estressante, e seu cortisol sérico aumenta cada vez que a tarefa é realizada. A terceira forma de resposta inadequada é a incapacidade de encerrar as respostas ao estresse depois que o estímulo é retirado, permanecendo uma ativação do sistema nervoso simpático e do eixo HHA. Por fim, a resposta pode ser insuficiente ou inadequada, causando a ativação de sistemas compensatórios que também podem ser prejudiciais. Por exemplo, se a secreção de cortisol não aumenta em resposta ao estresse, a secreção de citocinas inflamatórias perde um importante regulador, podendo estar anormalmente aumentada podendo aumentar o risco doenças autoimunes, inflamatórias e cardiovasculares.
Na resposta ao estresse crônico, o cortisol permanece elevado podendo causar a formação de placa aterosclerótica, diabete, úlceras e prejuízo do funcionamento imunológico. No cérebro, o efeito negativo mais importante envolve o hipocampo, uma estrutura com receptores de glicocorticoides abundantes e fibras aferentes ao hipotálamo, o hipocampo é conhecido por sua função na memória, e comprovou-se que o excesso de glicocorticoides produz prejuízo de desempenho da memória.
Continuarei...
REFERÊNCIAS:
Autor: Leonardo Alovisi Martins, médico psiquiatra, Cremers 27614.